quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Intuição.

"Conjunto de conhecimentos próprios adquiridos ao largo das múltiplas experiências do Ser, que lhe aflora à mente espontaneamente, sem necessidade de ninguém lhe transmitir nada, pois que tais conhecimentos pertencem ao seu universo peculiar e subjectivo de conhecimentos".

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O poder da leitura.

Vivemos num tempo em que não há tempo. Por causa disso, ler tornou-se uma miragem, uma daquelas coisas que nos dizem poder mudar as nossas vidas, mas que adiamos sistematicamente. Ao mesmo tempo, e porque há cada vez menos quem o faça, ler também se transformou numa maldição. Por outro lado dizem-nos que devíamos ler mais e se não o fizermos ficaremos de algum modo incompletos. Como se nos escapasse alguma coisa do mundo, numa espiral de ansiedade que transforma a leitura em algo de quase sagrado.
A leitura deve ser tudo menos uma obrigação. A leitura, qualquer leitura, é sempre uma descoberta. Mais, é uma descoberta muito própria de cada um. Não há duas leituras iguais. É um momento da mais pura intimidade. Quando lemos estamos sós. Tudo à nossa volta pára e deixa de importar, porque o poder da palavra sobrepõe-se a tudo o resto. A leitura é o mais poderoso de todos os feitiços. As palavras levam-nos a sítios inimagináveis, apresentam-nos as pessoas mais extraordinárias, dão sustendo aos nossos sonhos, tiram-nos o tapete debaixo dos pés e levam-nos para longe. Um longe que pode ser ao virar da esquina, mas que é sempre distante e sempre nosso.
A cultura da imagem, pelo contrário, é mais superficial. Não que exista nada de errado ou de menos certo ou até de incompleto, mas porque a imagem nos limita a imaginação. Apesar disto, a imagem é das coisas mais importantes para o ser humano, com todo o mérito que merece. Na imagem, está lá quase sempre tudo, o que significa que não é preciso ir tão dentro de nós buscar mais qualquer coisa, porque as imagens são completas em si mesmas, e ainda por cima colectivas: vemos todos o mesmo. Na palavra não. Quando um escritor escreve sobre alguém ou algum sítio, por exemplo, a liberdade é toda nossa para imaginarmos um "alguém" que só nós podemos ver e que será sempre diferente do "alguém" de outra pessoa. Até mesmo diferente do "alguém" que o escritor concebeu. É esse o poder da leitura. É um poder absoluto e ilimitado que nos dá todo o direito de arrumar dentro de nós aquilo que o escritor escreveu, a partir da história que estamos a ler.
Mesmo que a nossa leitura não seja ficção, mesmo nos factos, temos a liberdade de desenhar alguns dos contornos à nossa maneira. É um poder bom, porque até o abuso, o exagero do uso dessa liberdade, nunca resulta mal. Afinal é a nossa leitura e podemos fazer dela o que muito bem entendermos.
Ler descansa, absorve e estimula. Ler nunca é mau. Não há livros bons ou livros maus. Isso depende só de cada um de nós. Claro que há livros que se calhar devíamos ler um dia, mas isso é porque têm uma importância que as mil e uma leituras dos outros lhes deram e que esses leitores quiseram partilhar connosco. Esses livros, sejam clássicos ou simplesmente livros que têm um êxito súbito, até podem nem ser os melhores. São livros que criam a ansiedade da leitura e fazem com que nos sintamos obrigados a lê-los Nessas alturas o melhor é só os ler se verdadeiramente nos apetecer. Só assim poderemos aproveitar ao máximo a riqueza desse livro.
Não ler também não é necessariamente mau. Os livros esperam por nós e têm toda a paciência do mundo. Uma página por dia é tão bom como duas, três, cinco ou dez. O livro faz todo o trabalho por nós. O livro abre-se e seduz, agarra-nos e surpreende-nos. O livro cativa sempre, mesmo que o deixemos de parte durante algum tempo, porque ele tem sempre tempo.
Ler é também liberdade para o espírito. É como andar de carrossel com as palavras. É sempre emocionante, ainda que possa ter momentos desconfortáveis aqui e ali. Ler é tão livre que até podemos sair do carrossel a meio. Ninguém é obrigado a ler um livro até ao fim ou sequer a gostar dele. E podemos ler os livros que mais gostámos vezes sem conta com a garantia de que será sempre uma experiência diferente. Ler é partilhar, é saber mais, é viver melhor. Ler é conseguir fazer tudo sem sair do mesmo lugar. Ler é abrir o nosso mundo...