terça-feira, 14 de abril de 2009

Saudade


Que mulher nunca comeu
Um chocolate por ansiedade
Uma alface por vaidade
Ou um canalha por saudade?

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Agora nada mais importa.

Foste tomar um duche ao final da tarde enquanto eu dava as indicações do jantar à Madalena. Mas estava demasiado inquieta e obviamente que não era por estar a fazer uma coisa que faço todos os dias. Tentei acalmar-me deitando-me no sofá, mas nem isso resultou.
Subi as escadas. Ouvia-se a água a correr e talvez estivesses a cantar, pelo menos pareceu-me ouvir a tua voz. Entrei no nosso quarto. Peguei no teu telemóvel, mas não fui capaz de o fazer.
"Treta, onde está a cigarreira? O isqueiro?"
Estava mesmo à minha frente, em cima da minha mesa de cabeceira. Como não via? Como era possível não ver algo que estava mesmo à minha frente?
Peguei naquilo que procurava, coloquei o isqueiro dentro do bolso da camisa e levava a cigarreira na mão. Desci as escadas.
"Madalena, se o Sr Dr perguntar por mim, diga-lhe que não tardarei a voltar e que ele saberá onde me encontrar.".
Quando bati a porta reparei que estava demasiado vestida. Aquele final de tarde era quente e o pôr-do-sol estava magnífico.
Ia caminhando pelo jardim da casa em direcção ao baloiço enquanto ia deixando roupa cair. Sem qualquer pudor, vergonha ou consciência, ia deixando a roupa ficar para trás. Não olhava para trás, pelo menos era o que estava disposta a fazer com tudo na minha vida.
Tinha ficado apenas com a tua camisa vestida, aquela que eu uso quando estou em casa. Estava cada vez mais próxima do baloiço. Sentei-me, olhei em meu redor... olhei e reparei. Tudo estava tão fantástico e eu tão apática. A tristeza começava a entrar em mim de uma forma cada vez mais intensa e a única coisa que eu queria era não pensar. Não queria que fosse mesmo verdade. Sentia um sufoco tão, mas tão grande. Pela minha garganta não passava nada e no meu coração passavam estacas!
Abri a cigarreira. Tirei um cigarro, não ao acaso, mas o terceiro. Tirei o isqueiro do bolso da camisa. Acendi o cigarro.
Não sei dizer o que estava a sentir. Estava a sentir-me tão livre que me sentia capaz de voar, contudo bastava-me pensar em ti que um peso caia sobre mim. O cigarro ia ficando cada vez mais pequeno, mais e mais pequeno. Queimou-me, mas eu continuava ali.
"Porque não fui capaz de mexer no telemóvel dele? Porque é que tenho medo de descobrir aquilo que no fundo sei? Até o meu cheiro que está nesta camisa se confunde com outro cheiro que não o dele".
Não sabia o que se passava comigo, eu sempre tinha sido forte, alguém com coragem, mas tudo isso estava a desaparecer. Já nem eu me conhecia. Ele estava a deixar-me exausta. Estava a destruir-me e a transformar-me em alguém que eu não queria ser.
As lágrimas já me cobriam o rosto e a minha visão já estava turva quando ouço alguém a aproximar-se.
Pegaste na minha mão.
"Querida vou ter de sair."
"E o jantar?"
"Não tenho tempo, janto no hospital."
"Mas disseste que hoje entravas mais tarde."
"Infelizmente vou ter de ir mais cedo. Vá querida..."
Beijaste-me na testa e saíste.
Não, eu já não precisava de mais provas.
Levantei-me, acendi mais um cigarro. Caminhei, mas desta vez em direcção à piscina. Eu estava determinada. Peguei na garrafa de whisky que deixavas sempre próxima da piscina. Entrei calmamente, senti um arrepio, mas era apenas porque a água estava fria. Sentei-me nos degraus interiores com o cigarro de um lado, a garrafa do outro e... bebi, bebi, bebi. Bebi até já não me restar mais nada que aquele pôr-do-sol e as forças suficientes para me deixar flutuar de cabeça para baixo, deixando-me adormecer assim e nunca mais acordar. Era a única coisa que me restava. Era o que tinha de fazer.


Eu amava-te. Agora para nada importa.