sábado, 20 de dezembro de 2008

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O salto que parte. A multidão que passa.

Confusão. Multidão. Gritos. Buzinas. Empurrões. Sinais vermelhos. Passadeiras cobertas. Sinais verdes. Trânsito. Pedintes.
Tudo isto me parece fascinante. Estou a andar pelo mesmo caminho que sempre andei, mas hoje tudo me parece diferente. Tudo me parece novo. "Devia ter reparado nisto mais cedo. Devia ter percebido o quão fascinante isto é."
Começo a girar em torno de mim mesmo, começo a ver mil e uma coisas ao mesmo tempo. Estou a ver o céu cinzento, a madama a tomar café numa esplanada, o pedinte que se diz cego a contar as moedas, cães desavergonhados, o empregado de mesa vestido de negro que quase cai, a menina com uma fitinha na cabeça que chora puxada pela mãe, dois homens que se beijam, esses homens juntam as mãos. Vejo dois condutores a discutirem, o velhinho a ler um jornal, duas adolescentes que bebem chocolate quente, o grupo rastafari que toca jambés, o cuspidor de fogo, o rapaz de phones que canta sem som, o ladrão que passa a correr, a senhora que grita "Agarra que é ladrão". Vejo o olhar de repugnância da madama que toma café ao ver o beijo entre os dois homens, o segurança da loja que fala aparentemente sozinho, a pasta do homem que se abre, os papeis que voam, a saia da senhora que levanta, a rapariga que sorri para o telemóvel, as mãos de um homem lindo que seguram um jornal, o olhar de assédio da mulher linda que está ao lado.
Continuo a girar, continuo a observar. É um rodopio intenso que não consigo parar. Estou a girar cada vez mais rápido e agora não me consigo focar em nada.
O meu salto parte. Estou caída no chão agarrada ao tornozelo. Estou a rir e não sei a razão. Estou a rir-me de mim mesma? Estou a rir-me do salto partido que tenho na mão?
"Menina, está bem? Precisa de ajuda? Precisa que chame alguém?"
"Não, não. Estou bem, obrigada."
"Agarre-se a mim, eu ajudo-a."
"Não, por favor não. Tenha um bom dia."
Sinto agora que algo me escorre pela cara. O riso tinha passado subitamente a choro. Sei que não choro por estar sozinha, alguém me quis ajudar e eu não aceitei. Sei que choro de felicidade por sentir e de tristeza pelo olhar de repugnância da madama. Choro agora de alegria por ver o beijo de dois homens.
As pessoas não param, movem-se freneticamente, correm, gritam, choram, riem, cantam, empurram-se, insultam-se, beijam-se, tropeçam, falam ao telemóvel, atiram uma das pontas dos cachecóis para trás.
AAAAAAAHHH, a minha cabeça dói! Não estou a conseguir suportar.
Pára tudo! Quero brincar ao 'Tá Stop. Esse jogo de criança que nos faz sentir o poder nas mãos. Quero que tudo à minha volta pare. Já sinto a minha cabeça a andar à roda. Sinto que estou a ficar louca. Sinto que vou explodir.
"Táxi... Táxi!"
"Bom dia menina. É para onde?"
"Para bem longe daqui. Não sei."