quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Uma última noite.

"Esta será a nossa última noite. A noite em que os nosso corpos se tocam e se tornam num só. Será a noite em que o que está dentro destas quatro paredes também deixa de interessar, excluindo nós. Esta sim, será a noite em que estaremos juntos de corpo e alma, depois... bem, depois... só as nossas almas estarão juntas e os nossos corpos separados.".
Disse-te todas estas palavras, uma por uma sem me escapar nenhuma. Disse-tas enquanto estávamos a dançar a um ritmo demasiado lento para dois corações tão acelerados.
Foi depois de teres invadido o meu quarto, onde eu estava já deitada, em toda aquela escuridão, de costas voltadas para cima e a olhar aquele mar que tenho o privilégio de ver por aquela enorme janela. Foi depois de te teres deitado ao meu lado com uma perna sobre as minhas, com o teu rosto lado a lado com o meu e o teu braço a abraçar as minhas costas nuas. Ficámos assim algum tempo, tempo esse que agora me parece fugaz demais. Não me mexi um milímetro que fosse enquanto te deitavas ao meu lado e adaptavas o teu corpo ao meu, nem enquanto estávamos os dois naquela posição a olhar o mar. Estivemos sempre em silêncio até então. Foi depois de te teres levantado, de te pores de costas voltadas para o mar em pé diante de mim, substituindo a visão de um mar imenso para um corpo imenso e esbelto, e de me teres estendido a mão. Foi depois de eu ter levado a minha mão ao encontro da tua, de me ter levantado em silêncio, de juntar o meu corpo ao teu, dos teus braços abraçarem o meu corpo e de eu pousar a minha cabeça no teu ombro. Foi depois de tudo isto. Foi depois de termos balançado o nosso corpo algumas vezes. Mas foi depois da minha primeira lágrima, foi depois da minha primeira lágrima que eu te disse todas aquelas palavras em voz baixa e ao teu ouvido, ainda com o rosto deitado no teu ombro. Foi depois de tudo isto que eu disse todas aquelas palavras que pareciam flechas lançadas ao meu coração.
Não disseste nada, agarraste-me ainda com mais força. Aceitaste sem dizer palavra, apenas continuaste sem contestar. Era isso que eu queria. Não queria gritos, mais palavras de sofrimentos, não queria nada a não ser estar contigo ali naquela última noite. Nem as lágrimas que nos escaparam eu queria.
Dançámos... dançámos... dançámos... dançámos sem dizer qualquer palavra, sem qualquer expressão facial. Fizeste-me sentir saudades tuas.
Paraste subitamente. Afastaste-me de ti. Colocaste a tua mão direita na minha cintura e a esquerda no meu rosto. Ficaste parado a olhar para mim, a avaliar todos os traços do meu rosto, até veres uma lágrima a escorregar pela minha cara. Seguiste com o teu olhar o trajecto que ela fazia até chegar ao pescoço. Foi então que me beijaste primeiramente o pescoço, depois foste subindo, subindo até encontrares os meus lábios.
Despiste-me de preconceitos. Despiste-me literalmente, lentamente e, simultaneamente, eu fazia o mesmo contigo...
... ...
Acordei deitada a teu lado. Olhei para ti e depois para o mar calmo daquela manhã e só depois, quando olhei à minha volta, encontrei marcas óbvias de prazer e amor por todo o quarto.
Sentei-me na cama, levei as pernas para fora dela, peguei na tua camisa que estava ao fundo da cama, vesti-a, voltei a olhar para ti, depois para o exterior da janela com aquela enorme varanda e levantei-me.
Fui em pontas de pés até à banheira para não te acordar. A minha intenção era tomar duche e depois preparar-te um pequeno almoço inesquecível.
Tomei um duche que sabia não ser rápido. Mas precisava de todo aquele tempo para tocar em todos os pontos do meu corpo onde tu tinhas tocado. Precisava estar relaxada para fazer o que intencionava depois de sair daquele duche.
Voltei a vestir a tua camisa, sentia-me confortável com ela e sabia que tu adoravas ver-me com ela.
Fui novamente até ao quarto... Não havia sinal de roupas tuas no chão, não havia sinal do teu corpo deitado na minha cama... Não havia sinal de ti.
No entanto, deixaste-me algumas coisas que, naquela momento, pensava que era apenas uma mesa na varanda com o pequeno almoço preparado e um guardanapo com um coração que tinha sido eu a desenhar e que te tinha dado no primeiro café que tomámos juntos. Pensava eu que era apenas isso que me tinhas deixado, mas enganei-me! Deixaste-me saudade, fúria, sofrimento, amor, paixão, recordações, a tua camisa e um pedido de casamento entalado na minha garganta.
Enquanto tomava aquele duche a minha intenção era relaxar e ficar bonita para ti, para que quando eu estivesse sentada na mesa da varanda com o pequeno almoço preparado para nós e a praia como pano de fundo, acordasses, olhasses para mim, sorrisses, te dirigisses a mim, me beijasses, te sentasses ao meu lado e, aí sim, eu te pedir que ficasses comigo para sempre.
Era isso que planeava para nós depois daquela noite. Planeava que aquela última noite não fosse verdadeiramente a nossa última noite.
As únicas palavras pronunciadas naquela noite saíram da minha boca. Estavam amaldiçoadas.
Foi uma noite a preto e branco. Uma noite de silêncio. Uma noite de intenso envolvimento e paixão. Foi uma noite tão simples, tão intensa e perfeita, que queria que aquele começo de dia fosse também especial.
Saíste da mesma forma que entraste. Entraste sem dizer qualquer palavra, continuaste em silêncio e saíste da mesma forma. Entraste sem fazer barulho, sem eu dar por isso e saíste da mesma forma. Mas entraste para me amar e saíste sem que deixasses que eu te amasse para o resto da minha vida.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Fecho a porta.

Eu fecho a porta
Como tantas vezes, como tantas vezes antes
Como é que te deixei ir embora esta noite
Sem dizer nada
Eu tento dormir, sim
Mas o relógio está parado no pensamento tu e eu
Surgem mais mil arrependimentos, sim
Se estivesses aqui agora, eu juro,
Eu dir-te-ia isso

Não quero desperdiçar outro dia
Guardar isto dentro de mim está a matar-me
Porque tudo o que eu quero, só tem a ver contigo
Eu gostaria de poder encontrar as palavras para dizer
Eu dir-te-ia todas as vezes que partisses
Eu estou inconsolável
Eu subo pelas paredes
Eu vejo a beira do abismo e não consigo saltar
Eu memorizei o teu número
Então por que não te consigo ligar?
Talvez porque eu saiba que sempre estarás comigo
Na possibilidade

Eu não quero ficar assim
Eu só quero que saibas
Tudo o que estou a segurar
É tudo o que eu não posso abandonar, não posso abandonar

Não sabes?
Eu não quero desperdiçar outro dia
Eu gostaria de poder encontrar as palavras para dizer
Eu dir-te-ia todas as vezes que partisses
Eu estou destroçada